"Recordo a década de 1970, o tempo do meu casamento, uma época em que a compra de um apartamento se configurava como um esforço hercúleo para a maioria das famílias.
A entrada inicial exigida era significativa: os nossos agregados familiares - movimentando poupanças de 30 anos - juntaram 40% do valor total, sendo que o mínimo legal se fixava nos 30%. O prazo máximo de amortização e juros era de apenas 15 anos, resultando, inevitavelmente, numa mensalidade extremamente pesada.
Qualquer adaptação à nova vida de casados, todo o tipo de sacrifícios financeiros e sonhos adiados, era visto como "a ajuda" necessária, muitas vezes após anos de serviço militar obrigatório...
Para se ter uma noção do esforço, o custo mensal da dívida, correspondente aos restantes 60% do valor do imóvel, consumiria 66,7% da soma dos nossos vencimentos, durante 15 anos.
Anos mais tarde, o panorama mudou drasticamente: a entrada inicial permitida chegou a ser de 0%. Este relaxamento nas condições de crédito – em todo mundo ocidental, que facilitou a concessão de empréstimos de alto risco (subprime) – é amplamente reconhecido como um dos fatores que desencadearam a crise financeira global de 2007/2008.
Hoje, assistimos a manifestações de rua que reivindicam o acesso a habitações gratuitas ou fortemente subsidiadas pelos contribuintes.
Isto levanta questões fundamentais: Até que ponto é justa esta exigência? E qual é o limite para que os impostos possam suportar encargos que, tradicionalmente e por definição, eram considerados pessoais e privados?"
English
"I remember the 1970s, the time of my marriage, a time when buying an apartment was a Herculean effort for most families.
The required down payment was significant: our families—drawing on 30 years of savings—put together 40% of the total value, while the legal minimum was 30%. The maximum amortization and interest term was only 15 years, inevitably resulting in an extremely heavy monthly payment.
Any adjustment to the new married life, all kinds of financial sacrifices and postponed dreams, was seen as necessary "help," often after years of mandatory military service...
To give you an idea of the effort, the monthly cost of the debt, corresponding to the remaining 60% of the property's value, would consume 66.7% of our total income for 15 years.
Years later, The landscape has changed dramatically: the initial down payment allowed has reached 0%. This relaxation of credit conditions—which facilitated subprime lending throughout the Western world—is widely recognized as one of the factors that triggered the 2007-2008 global financial crisis.
Today, we are seeing street demonstrations demanding access to free or heavily state subsidized housing.
This raises fundamental questions: To what extent is this demand fair? And what is the limit to how much taxes can support burdens that, traditionally and by definition, were considered personal and private?