O Serviço Militar Obrigatório (SMO) foi uma instituição retomada pela guerra colonial, um recurso normal de mobilização militar quando é previsível ou se desenrola um conflito armado.
No caso da guerra colonial, o SMO abrangia um período de 4 anos, sendo dois passados no continente e dois numa das colónias.
Durante o período de SMO os milicianos eram pagos por um valor irrisório - cerca de 1/4 do que à época seria um salário mínimo - e, sob pena de prisão, eram obrigados a incorporar os batalhões para a guerra de guerrilha.
Os militares do quadro gozavam então de um estatuto privilegiado: Salários muito superiores aquando da deslocação para África e benesses várias dependentes das patentes, carreiras rápidas, forte autoridade local e alheamento quase completo das zonas de risco físico. Seriam os milicianos - os militares não do quadro - quem enfrentava a guerrilha até à patente de capitão (inclusivé).
A carreira dos oficiais do quadro era de tal forma rápida e protegida que, ainda hoje, 48 anos após o 25/04/74, existem 220 oficiais generais,* para um activo de cerca de 23.400 militares. Ou seja, um general para cada 106 militares...
Já para os milicianos, além dos mortos em combate, os estropiados e deficientes enfrentam a vida civil com a quase completa indiferença da mesma sociedade pela qual foram combater. Uma vergonha e uma injustiça que a todos nos devia incomodar. Particularmente aos oficiais do quadro!
Porém, apesar das injustiças sofridas, os jovens que combatiam em África e regressavam ilesos, voltavam com uma maturidade rapidamente adquirida, vontade de constituir o seu mundo, família, trabalho e determinados a vencer!
O SMO funcionava como uma fronteira de choque entre a juventude e a idade adulta.
Com o fim do SMO os jovens passaram a eternizar a sua presença na casa dos pais, casando e preocupando-se com o trabalho muito mais tarde, além da idade da paternidade ser também adiada.
Estou longe de ser um adepto do SMO. Penso no entanto, salvo as vicissitudes da guerra, que um período (bem inferior a 4 anos) obrigatório de separação do jovem da família - militar ou não - será muito útil para auto-avaliação da capacidade do jovem, enquanto enfrenta desafios normais a um adulto.