Certamente, todos concordamos que vivemos no planeta Terra.
Mas em qual parte do planeta?
1 - Se no chamado Ocidente (designação que atribuo ao conglomerado Austrália, Canadá, Coreia do Sul, EU, Israel, Japão, UK e USA) poderemos assegurar que desfrutamos de um mundo confortável, onde os suprimentos alimentares estão garantidos, a segurança geral assegurada e direitos humanos aceites. Chamaria a este, nível civilizacional NC 1.
2 - Já nos chamados Bric (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) poderemos admitir suprimentos alimentares maioritariamente satisfeitos, segurança geral tensa e direitos humanos parcialmente compreendidos. NC 2.
3 - O Médio Oriente (onde me atrevo a incluir, para efeitos desta classificação a quase totalidade de países islamitas) poderemos pensar em suprimentos alimentares básico falíveis, insatisfatória segurança social e direitos humanos ignorados, particularmente para as mulheres. NC 3.
4 - Em qualquer outro país de África, além dos mencionados, nem alimentação, nem água potável nem nada sobre os valores globalmente assinaláveis são, sequer, considerados. NC 4.
Estes quatro patamares civilizacionais são facilmente observáveis seja pela história desses países seja pelos sistemas políticos aí existentes os quais, naturalmente, demonstram desrespeito pelos cidadãos.
Com este texto pretendo evidenciar porque é difícil qualquer plataforma de entendimento recíproco, para uma pacífica convivência global.
Esta convivência tornou-se muito mais complicada com a vulgarização do conhecimento generalizado de qualquer modus vivendi, possibilitado - Barack Obama dixit - pela disseminação massiva de telemóveis e computadores. As partes pobres da população mundial terão pensado: "Como é que eles têm tanto e nós tão pouco?" Como qualquer humano, não ficará interessado em compreender se tal se deverá a um processo evolutivo natural, catalisado pelos Descobrimentos espanhóis e portugueses nos séculos XV e XVI...
Ele apenas sente que a sua vida, sendo uma migalha na História, tem direito a ser melhor para si, já.
Vira-se então para os seus dirigentes: "Porquê?", pergunta. E a resposta provável que ouvirá será:
Porque eles nos colonizaram, escravizaram, roubaram...
Mas, se entre os descontentes alguém se atreve a perguntar porquê os seus dirigentes são riquíssimos, vivem com mais meios que a esmagadora maioria dos ocidentais e é no ocidente onde está a grande parte dos seus bens, dinheiro e filhos a estudar... o regime político castigá-lo-á e o regime religioso o amaldiçoará caso, estes não sejam um e o mesmo...
Com o apoio à Primavera Árabe, 2010, o Ocidente tenta apoiar a instalação de Democracias em vários países árabes. Porém, aquele ainda não era o momento histórico para o fazer. Sendo embora a Democracia o mais tolerante e avançado dos regimes existentes - o atraso cultural que estimo em 50, 100 e mais de 200 anos respectivamente para o segundo, terceiro e quarto grupo civilizacional - fez abortar a tentativa.
Como será possível que multidões de africanos, arrisquem a sua vida e a de seus filhos em tentativas, regra geral frustradas, de entrar na Europa e não construam condições para provocarem nas suas origens, verdadeiras revoluções francesas, que lhes permitiriam conseguir um futuro mais justo?
Ao estabelecerem as Nações Unidas, na lei internacional, a existência de cerca de 200 países soberanos, esta organização pouco mais conseguiu que condenar indefinidamente os povos da maioria deles à pobreza, a baixos índices de alfabetização, à submissão a ditaduras político-religiosas.
Também parece eternizar, pela indiferença, a existência de "países offshore" - locais que pouco mais são do que receptadores, impunes, do produto do crime financeiro internacional - desde o tráfico de droga ao de órgãos humanos - sem que os países vítimas desses crimes os possam incomodar...
Ou seja, nos que acima designo por quarto mundo e alguns do terceiro, as ditaduras nacionais estão a salvo de intervenções estrangeiras e poderão continuar, sem receios, a submeter violentamente os seus povos. No que designo por primeiro mundo, o crime financeiro estará salvaguardado e pode tranquilamente continuar como até aqui.
Perante esta sinuosa incapacidade com que enfrenta dramas da Humanidade, a ONU diária e constantemente opta por referir o alarme climático... Esta Organização não está preocupada com o futuro dos humanos desfavorecidos no planeta mas sim em dar continuidade e portos seguros a ditadores políticos e saqueadores financeiros existentes no globo.
Esta política global, só poderá conduzir a mais revolta, mais miséria, mais migração, mais mortes.
Diz-nos a História que uma das maiores economias dos nossos dias - Japão - económica e militarmente arruinada em 1945, foi decisivamente impulsionada pela Democracia dos EUA nos trinta anos seguintes. Este o mais rápido e significativo salto civilizacional na História, conseguido em Paz. As economias que ficaram então sob a esfera de forte influência soviética, tendo sofrido menores efeitos da II guerra mundial, em que lugares do ranking económico mundial se encontravam em 1991, ano da queda do muro de Berlim?
É o nível de vida das populações que define os mais convenientes sistemas políticos.
Não palavras de narcisistas visando o seu poder pessoal, ainda que ornamentadas de boas intenções!