A crise habitacional em Portugal não é um problema recente.
A geração anterior à minha, por exemplo, vivia quase exclusivamente em casas arrendadas, pagando rendas vitalícias a um senhorio.
Nasci e cresci numa dessas casas, onde o meu avô pagava a renda religiosamente.
Só quando o meu pai foi transferido para o Algarve é que conseguimos ter uma casa só para nós, alugada, mas nossa: para a minha mãe, o meu pai e eu.
Naquela época, a ditadura já oferecia a possibilidade de as pessoas próximas ao regime pagarem rendas moderadas e, após 30 anos, tornarem-se proprietários da casa.
A ideia de comprar um apartamento era uma novidade, e só ouvi falar disso, pela primeira vez, no Natal de 1964. A falta de conhecimento sobre como funcionaria, tanto legal como financeiramente, levantava imensas questões.
Hoje, cerca de 70% das famílias portuguesas são proprietárias de habitação.
No entanto, a minha geração e a anterior nunca pensaram em exigir que o Estado nos desse uma casa. A luta pela habitação era individual, não uma reivindicação coletiva.
Novos Desafios: Imigração e Turismo
Hoje, a situação é mais complexa, agravada por dois fatores principais: a imigração e o turismo.
Enquanto o turista resolve o seu problema de alojamento sem causar grande alarme, o imigrante necessita e, na minha opinião merece, encontrar condições de habitação dignas no país que o acolhe.
É incompreensível que entidades públicas que gastam milhões em atividades ditas executivas sem a legitimidade da promessa eleitoral, sejam incapazes de alojar a mão de obra essencial para o país, especialmente no setor da construção civil.
Esta mão de obra é a mesma que trabalha para os "grandes patrões", que por sua vez têm uma relação estreita com os partidos no poder.
O Pensamento Dominante e Possíveis Soluções
Acredito que esta proximidade entre as entidades públicas e os grandes empresários paralisa o bom senso e a capacidade de encontrar soluções.
O pensamento dominante torna-se o betão — a construção em massa de prédios.
Aí é reside o grande lucro!
Por que razão ninguém propõe a criação de bairros de madeira nas periferias, à semelhança do que se vê em países como os EUA, com transportes assegurados para os centros urbanos?
Seria uma alternativa mais rápida, económica e sustentável para o problema da habitação, que parece estar longe de ser resolvido.
English
The housing problem didn't start in the last ten years.
The previous generation lived only in rented houses, where they paid rent to a landlord for their entire lives...
I was born in one of these houses. My grandfather paid the rent. Only when my father moved to the Algarve did we have a rented house for just the three of us: my mother, my father, and me...
The then-existing dictatorship already allowed people of the "situation" to pay moderate monthly rents and, after 30 years, be able to call the house their own.
It was at Christmas 1964 that I first heard about buying apartments. The originality of the situation, the lack of knowledge about its legal and financial development, provoked a cascade of questions.
Today, 70% of Portuguese families own their own homes.
It never occurred to me, or anyone from the previous generation, to take to the streets and demand that the state give us housing.
Two more factors are now emerging to exacerbate the housing problem: immigration and tourism.
If this solves the housing problem without anyone bothering, immigrants need, and in my view, deserve, to find minimum living conditions in any host state.
How is it possible that public entities that spend millions on electorally unforeseen activities are incapable of housing the workforce needed by big bosses, especially in the construction industry, who are such close friends of the parties in power?
I believe this friendship paralyzes common sense and reasoning, so there's more than one solution.
The dominant thinking is concrete!
Why doesn't anyone propose, as in the USA, neighborhoods in the surrounding outskirts made of wood with guaranteed transportation to the urban center?
Sem comentários:
Enviar um comentário