A História Universal encontra-se repleta de alterações
políticas.
São estas modificações, marcos ditando diferentes
épocas na evolução das sociedades humanas.
Invariavelmente, a uma revolução segue-se a total
aniquilação física e/ou funcional de toda a classe, até aí, politicamente
dominante.
Antes dos Descobrimentos, a anulação das famílias
nobres implicava também alteração na detenção dos principais bens. O poder
político estava reciprocamente associado ao poder financeiro, ou seja,
personificado nas mesmas individualidades, pela posse do território.
Com a formação das burguesias mercantilistas, a
detenção de significativas fortunas passou a estar também em mãos de origem
popular, com capacidade para comprarem títulos nobiliárquicos.
O capital pertencia, agora também, a quem estava fora
do círculo de poder tradicional.
Tal como os nobres, a burguesia endinheirada conseguia
agora impor na lei a transmissão de bens por herança.
Constituía-se, assim, uma nova nobreza pelo sangue: a
do dinheiro.
Com a importante vantagem de não apresentar os riscos
da mais antiga. Os seus membros não eram alvos de eliminação pelo efeito das
revoluções e, muitas vezes, bem ao contrário, eram protegidos e apoiados por
revoltosos que ocultamente financiavam, com objetivo de os novos alicerces
políticos projetados pelos revolucionários, não anularem ou reduzirem o seu
poder.
Essas famílias tornaram-se, assim, as de maior
resiliência social através dos tempos.
Sobrevivendo a alterações de regimes,
vão influenciando a elaboração das leis, apoiando na sombra movimentos
contestatários, financiando governos e controlando – através da gula financeira
de agentes do estado - decisões burocráticas passíveis de as incomodar.
Perguntaremos: Porquê o voto popular não impõe o fim
deste domínio, corrosivo para a sociedade?
Porque existe um fantasma sempre clamado e agitado
pelas monarquias financeiras sobre as populações, quando a questão se levanta:
“Se a instituição herança for colocada em causa, nenhum filho poderá
herdar.”
Este alarme despropositado colhe profundamente em
todos aqueles que, após uma vida de trabalho, pensando deixar aos seus filhos
meios para um futuro mais confortável, receiam o desmoronar dos seus sonhos.
Seria fácil, justo e socialmente muito conveniente, se
herdeiros de valores superiores - por exemplo - a cinco milhões de euros, vissem os
direitos do estado serem exercidos com taxações depreciando uma parte significativa desse valor.
E essa taxação, bem como, o valor a partir do qual seriam
aplicadas, seriam sempre constitucionalmente revistos em referendo, por
exemplo de 30 em 30 anos, devido aos surtos inflacionários.
Porém, qualquer herdeiro que individualmente recebesse
valores inferiores a cinco milhões de euros continuaria, como hoje, a ter o direito a
herança isenta de qualquer tributação.
Nenhum pensamento lógico poderá justificar que um
bebé, logo no nascimento, seja potencial possuidor de valores de herança
na casa dos vários milhões, em alguns casos milhares de milhão, de euros.
Como poderá ser aceitável que alguém, à nascença, sem
qualquer prova dada, pensamento expresso ou atitude assumida, esteja
imediatamente destinado a controlar o destino de milhares ou milhões de
concidadãos e de influenciar, direta ou indiretamente, políticas e economias
logo, a evolução do futuro de nações?
Que lógica pode suportar este facto?
Apenas uma: a da monarquia financeira.
A eterna subalternização das famílias pobres às mesmas
famílias ricas.
Por razões exclusivamente genéticas, desprovidas de
lógica, mérito ou de qualquer outro dom de interesse para a maioria dos
cidadãos.
Modificar tudo o que tende a eternizar desigualdades - subalternizando à partida os que podem vir a
evidenciar superiores capacidades individuais - é dever de dignidade social,
impondo a asserção de, à nascença, todos sermos iguais.
No mínimo, sem ultrajantes desigualdades.