O Paradoxo da Riqueza e a Invenção de Culpados.
Ah, que tempos dourados aqueles do pós-guerra!
Os "Trinta Gloriosos", onde a riqueza parecia brotar das árvores ao ritmo das fábricas a cuspir televisões, carros e frigoríficos.
Um verdadeiro paraíso materialista que, por mera coincidência, floresceu a par com a democracia, uma invenção aparentemente útil para garantir que todos pudessem sonhar em ter a sua máquina de lavar.
Depois, veio o inevitável.
Quando a casa de cada um já estava atulhada de bens, a economia, em vez de continuar a subir como um foguete, estagnou.
E eis que, num golpe de génio, o mercado resolveu fazer uma pausa.
Mas a culpa, claro, não podia ser do mercado, essa entidade perfeita e infalível.
Não, a culpa era dos governos!
Apareceu então um visionário chamado M. Friedman, que, com uma perspicácia notável, apontou o dedo aos "governos despesistas".
Um "génio" que quando perguntado onde a sua teoria tinha sido aplicada, responde: "Os únicos territórios onde se pratica, aproximadamente, a minha teoria são Macau e Hong-Kong".
"Esqueceu" dizer que se tratavam de offshore, que viviam também do jogo.
"Governos despesistas", esses irresponsáveis que ousaram criar um sistema de apoio social, com coisas tão supérfluas como educação, saúde e aposentação, para uma população que, egoisticamente, se habituou a ter esses benefícios.
Como é que os governos esperavam manter os serviços sem que as receitas fiscais subissem ao mesmo ritmo?
Que audácia!
Com a "crise" instalada, e a necessidade de culpar alguém, os movimentos populistas surgiram em grande estilo.
Promessas vazias, como sempre, mas com um repertório de bodes expiatórios que se foi atualizando: a culpa era da corrupção, depois da imigração, e até dos incêndios no verão.
Tudo movimentos liderados por gente tão pura e altruísta, que nem um único interesse oculto se lhes vislumbra.
E por falar em teorias, a de Friedman é tão bem-sucedida que não existe um único exemplo prático que a sustente.
Mesmo assim, a fé cega nela persiste. A "solução" para os problemas que essas teorias criaram foi, curiosamente, mais ditadura.
Um regime que, ao contrário da democracia, que se permite falhar e corrigir, prefere simplesmente anular o debate e a dissidência.
Afinal, por que é que a democracia se permite ter falhas?
É tão mais simples quando um ditador resolve tudo por si só, não é?
Sem comentários:
Enviar um comentário