Este o título de um texto de Miguel Torga que, em poucas palavras, retrata a maioria de nós.
Uma maioria que vota pelo que parece e não pelo que precisa...
Recordo o caso Isaltino de Morais: Era presidente de uma câmara com uma percentagem considerável de quadros, como eleitores.
Uma denúncia de corrupção colocou Isaltino na cadeia.
Pois bem: uma vez à solta, o ex-condenado recandidata-se e... ganha de novo...!
Um concelho que reelege um corrupto condenado, tem seguramente sintoma de masoquismo colectivo, corrupção colectiva ou ignorância ética.
Este resultado, talvez único em sistemas democráticos, é prova que, em Portugal, a ética coletiva promove e ajoelha perante a corrupção.
A maioria vai julgar agora, em eleições, um candidato a PM que, enquanto PM e com todo o descaramento, ocultou, mentiu e enriqueceu recebendo através de uma firma sua (que passou para familiares diretos) dinheiro de empresas privadas com contratos com o estado.
Viver em Democracia é ser ético!
Aplaudir a esperteza saloia é conivente com golpe de vigaristas.
Veremos quem consegue a maioria...
Embora não seja um poema no sentido tradicional, é um texto profundamente crítico e literário, onde Torga reflete sobre traços do caráter nacional português.
Eis o excerto completo:
"É escusado.
Cada português que se preza é uma muralha de suficiência contra a qual se quebram todas as vagas da inquietação.
Conhece tudo, previu tudo, tem soluções para tudo.
E quando alguém se apresenta carregado de dúvidas, tolhido de perplexidades, vira-lhe as costas ou tapa os ouvidos. Um mínimo de atenção ao interlocutor seria já uma prova de fraqueza, uma confissão de falibilidade.
Quanto mais apertado o seu horizonte intelectual, mais porfia na vulgaridade das certezas que proclama.
Não à maneira humilde e cabeçuda dos que se limitam a transmitir sem análise um saber ancestral, mas como um presumido doutor, impante de mediocridade."
— Miguel Torga (1909-1995) in Diário (1979)
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