É uma introspecção que, apenas há pouco me assolou, uma inquietação silenciosa que se instala na mente como uma semente que busca germinar.
Tem a ver com a soberba plurigeracional, essa herança quase invisível que muitos de nós, talvez inconscientemente, carregamos.
Quem nasce numa família com meios alargados de subsistência, com o privilégio de uma vida confortável e sem grandes preocupações materiais, tende a julgar a realidade pelo seu próprio patamar, pela sua lente particular.
A realidade, porém, apresenta-se em infinitas nuances, em um espectro complexo de experiências e desafios.
Nunca tomamos consciência, muitas vezes, das enormes dificuldades impostas pela vida a quem nasceu num meio carenciado.
Um meio onde a escassez se instala como uma sombra constante, onde todo o tipo de dificuldades sistemáticas – a falta de acesso à educação, à saúde, à alimentação adequada – diariamente condicionam a formação da sua personalidade, a sua aprendizagem, o seu desenvolvimento físico e emocional.
É um ciclo vicioso que, muitas vezes, se perpetua de geração em geração, criando uma profunda desigualdade e perpetuando injustiças sociais.
A falta de oportunidades gera a falta de perspectiva, que por sua vez, reforça a sensação de impotência e a dificuldade em romper o ciclo de pobreza, tendendo, os mais fracos, para a marginaldade violenta.
A introspecção leva-me a questionar o meu próprio lugar neste cenário.
Até que ponto a minha própria realidade, moldada por privilégios, me cega para as difíceis realidades de outros?
Até que ponto contribuo, mesmo que indirectamente, para a manutenção deste sistema injusto?
Estas são perguntas que exigem respostas honestas e um olhar crítico sobre a nossa posição na sociedade.
A consciência da soberba plurigeracional será o primeiro passo para a construção de um mundo mais justo e igualitário, onde todos tenham a oportunidade de florescer, independentemente das suas origens.
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