Ah, o crime de colarinho branco… essa modalidade olímpica onde se compete não pela medalha, mas pela morosidade dos tribunais e pela arte de desaparecer com milhões sem deixar rasto — ou melhor, deixando rastos suficientes para garantir entrevistas e cargos de consultoria mais tarde.
Tudo começa com o sagrado “princípio da inocência”, essa almofada de penas finas que envolve ternamente os suspeitos — perdão, os injustamente perseguidos — durante décadas.
Enquanto isso, os processos dormitam em estantes ministeriais, como bons vinhos à espera de envelhecer… até prescreverem, claro.
E depois há o maravilhoso mundo dos offshores.
Ah, que delícia!
Enviamos cartas, pedidos de colaboração internacional, rogativas com todos os selos e fitas douradas.
E o que recebemos de volta? Silêncio!
Um silêncio tão profundo que chega a ser poético: "Desculpe, não temos informação sobre o beneficiário final da empresa XYZ Holdings Unlimited...".
Que surpresa...!
Nunca ninguém pensou que uma firma chamada “XYZ Holdings” sediada numa ilha de 3 km² não tivesse um dono verdadeiro!
Afinal, quem somos nós para perturbar a liberdade empresarial global?
Investigar é um abuso, uma castração da liberdade, uma limitação ao enriquecimento visível, fácil, insolente.
Reduzam o IRC que ele precisa aumentar a conta offshore...
E exigir transparência - quando é exigida - é quase um insulto à criatividade dos que conseguem esconder milhões em três tempos com recurso a seis intermediários, uma caixa postal e um advogado com escritório num bungalow.
No fim, o colarinho continua branco, impecavelmente engomado, a desfilar tranquila e desafiante pelos corredores do poder exemplificando com enriquecer sem consequências sensíveis, à custa dos patetas que nele votaram ou do amigo (e cúmplice?) nomeado que ele motivou...
A justiça, essa, fica ali no canto… à espera que um dia também ela possa abrir conta num offshore.
Excelente análise a um crime sem castigo e que é a sustentação de muitos males.
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