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terça-feira, 31 de maio de 2022

O salário mínimo.

O 25/04/74 trouxe ao país o salário mínimo (s.m.) obrigatório.

Será um valor tido como indispensável para sobrevivência digna de quem trabalha. 

De então até hoje, o s. m. transformou-se numa bitola para avaliar a maior ou menor qualidade de qualquer outro salário. 

(Excepto, claro, do salário máximo. Que não existe! Que sobe ao sabor da fantasia dos esquemas inventados por uma massa dirigente que o autodefine e justifica. Um país onde dirigentes empresariais apenas vêem o céu, como limite salarial. Os governantes, talvez pensando nos seus "amanhãs que cantam", "esquecem" moralizar hoje, o desplante dos que lhes vão trilhando caminho... ).

São conhecidos fortes movimentos reivindicativos em vários países da UE por melhoria dos respectivos salários mínimos. Por exemplo, em França, onde o s.m. é superior a 1.500€, trabalhadores conhecidos como "gilet jaunes" encontram-se em luta, há muitos meses e todos os fins-de-semana se manifestam fortemente.

Sabendo-se que os custos básicos são semelhantes em Lisboa e em Paris, o que motivará tão fortemente os "gilet jaunes"?

Um estudo comparativo sobre o preço dos bens não tão essenciais poderá ser a resposta: comprar ou alugar uma casa, o preço de um café, de uma cerveja, de uma refeição em restaurante, de um par de sapatos... Todos, em média, com preços superiores a 50% aos praticados em Portugal.

O problema que se depara aos salários mínimos mais elevados na Europa, não residirá tanto no custo dos produtos básicos (a nível de supermercado) mas, no custo dos produtos intermédios* lá, muito mais difíceis de alcançar do que cá, rasgando qualquer sonho de melhoria de qualidade de produtos consumidos a curto/médio prazo.


*https://www.expatistan.com/pt/custo-de-vida/pais/franca?currency=USD




quinta-feira, 26 de maio de 2022

Paz para a Ucrânia!

 

Que Putin é um assassino ninguém duvida. Desde adversários políticos a ex-cúmplices todos tentou assassinar com o veneno criado pela KGB, o Novichok.

Que Zelensky é um patriota, também me parece óbvio. Em nome de uma Ucrânia livre já tombaram milhares de ucranianos sob o seu comando, numa resistência historicamente heróica.

Mas o patriota Zelensky e o assassino Putin TEM DE encontrar um entendimento a curto prazo. Nem os sonhos imperialistas de Putin, nem o patriotismo absoluto de Zelensky podem perdurar, por mais que tal agrade aos vendedores de armamento.

É a fome e a economia global que já o impõem.

Já perderam a vida centenas de crianças, cidades arrasadas, vidas destruídas. 

É necessário encontrar rapidamente uma Paz aceitável por ambas as partes.

Para tal, para Putin, há que satisfazer o antigo desejo de todos os impérios (quando não existiam aviões ou mísseis...): Estabelecer territórios-tampão após as suas fronteiras territoriais e acesso ao Mar Morto. Para Zelensky assegurar a definição e segurança da fronteira russo-ucraniana, garantir a Paz.

Estes desejos poderão ser satisfeitos se:

1 - Zelensky entender e aceitar que a Ucrânia sem administrar o Donbass, continua a ser Ucrânia.

2 - Putin concordar em considerar o Donbass e a Crimeia como zonas intermédias, zonas ucranianas desmilitarizadas sob administração russa, até novo acordo entre as partes. (Alternativa: A Rússia compra à Ucrânia a região do Donbass, a Crimeia e a língua litoral de território que une as duas regiões.)

3 - Os portos de Kherson e Odessa são parte integrante e com continuidade territorial à Ucrânia.

Caso Zelensky insista em se continuar a se armar até impor uma derrota necessariamente humilhante a Putin, terá de enfrentar a responsabilidade do sacrifício da sua população, do futuro dela e o da economia ucraniana.

Caso Putin continue a agredir a Ucrânia arrisca a derrota, a consequente perda de poder, a revolta interna e o isolamento internacional da Rússia por muitos anos.


Todos os conflitos da História terminaram com a Paz!

O prolongamento desnecessário de conflitos foi um sacrifício medieval imposto às populações por tiranos, invariavelmente ricos e poderosos porém, incapazes de dirigir os seus povos no caminho do desenvolvimento e aceitação mútua.

Nem mais uma criança assassinada em nome da insanidade de Putin*!

Ou da de Zelensky**!


A fortuna de Putin:

*https://veja.abril.com.br/coluna/radar-economico/homem-mais-rico-do-mundo-o-misterio-em-torno-da-fortuna-de-putin/       

O offshore de Zelensky:

**https://www.occrp.org/en/the-pandora-papers/pandora-papers-reveal-offshore-holdings-of-ukrainian-president-and-his-inner-circle




sábado, 21 de maio de 2022

Civilizado não é amedrontado!

 

A grande maioria, melhor, a quase totalidade de nós fomos educados para falar baixo em público, respeitar os mais velhos, o próximo...

Entre a minoria à qual não ensinaram ou rejeitou aprender estes conceitos básicos de vida em sociedade, estão os que tiram partido da sua pobre atitude social para, perante a alheia "limitação" educacional , tirar proveito disso.

Entre eles, os (as) que estacionam em segunda fila, as (os) que provocam engarrafamento na rua porque estão a entregar os filhos no colégio, os (as) que passam à frente da fila "só para fazer uma perguntinha..."

Alguém educado, não tem de ser passivo! Não é irritar-se em silêncio e deixar "espertos" levarem a sua avante. É, antes, levantar a voz e envergonhar publicamente o autor da incivilidade. 

Talvez da próxima, esta pessoa pense duas vezes, antes de voltar a minorar terceiros. Enquanto o incivilizado conseguir o que pretende pelo triunfo da sua marginalidade, não irá parar e tenderá a agravá-la.

A polícia de rua é, normalmente, inútil nestas situações. Como sabemos, só flagrantes delitos consubstanciando crime, merecem a atenção de agentes da autoridade... A grosseria, a má-criação, a falta de civismo são, na prática, intocáveis.

Mas pior. Este tipo de gente atropelando uns e outros, consegue ir longe na sociedade e mesmo na política. 

Demasiados são os casos conhecidos de indivíduos - sem visão paradigmática, política global estratégica ou meros planos parcelares para objectivos que alegam vir a conseguir - treparem rapidamente a lugares de decisão máxima. 

Regra geral, assumem um papel desafiador, exibindo voz emotiva e forte, dizendo ser capazes de resolver rapidamente o que o eleitorado menos esclarecido pensa ser fácil e possível embora, políticos conhecedores desses assuntos saberem ser demorado e difícil.

São exemplos, em Democracia: Trump, Bolsonaro, Cameron ou Boris Johnson. De ambições ávidas, foram triunfando pela indiferença da maioria e pela ignorante cumplicidade de outros.

Recorrem a argumentação básica, inspirada em insatisfação e receios publicitados pelos media, por intuírem ser esse o caminho mais rápido e fácil para obterem votos necessários para atingir o poder. 

Uma vez lá, nada conseguem...! 

O prometido muro a dividir o México dos EUA, a redução do crime no Brasil, a chantagem sobre a UE e as datas sistematicamente adiadas para o Brexit, são exemplos da incapacidade de cumprir promessas por estes indivíduos. Falham também em atitudes públicas expectáveis, exigíveis e dignas de políticos e em cumprir aspectos práticos da governação.

Como diria Edmund Burke: "Para triunfo do mal, basta a indiferença dos bons".

E é por esse comportamento envergonhado, silencioso, indiferente e submisso das maiorias com sensibilidade positiva, que grandes civilizações do passado soçobraram, permitindo a entrada de novos poderes regra geral trauliteiros, vazios de ideias e visão de futuro. 

Seguiram-se 1.000 anos de Idade Média!...

Democracia ganha-se todos os dias. Actuar para manter a sua dinâmica, a sua mais-valia, a superior qualidade de vida dos seus cidadãos, é tarefa diária.


De todos!




terça-feira, 17 de maio de 2022

Mais radares em Lx após 23 Maio 2022.

  A estrondosa caça à multa em Lisboa!

 Tentei, nas estatísticas conhecidas, encontrar dados que justificassem a compra de mais 40 radares de controlo da velocidade do trânsito em Lisboa no valor de 2.142.487,65€. (In Público, 2/11/21). Cerca de 53.000€ por unidade. 

O preço de um radar de aviso de velocidade ao condutor pode variar entre 1900 e 7500 USD...*   Porquê se terá optado por pagar entre 27 e 7 vezes mais por unidades para multar incautos, sem qualquer aviso anterior bem visível ?

Aparentemente Lisboa, Porto e Setúbal são locais onde a sinistralidade se tem reduzido assinalavelmente. Então porquê mais quarenta radares capazes de medir em simultâneo a velocidade de vários veículos, nos dois sentidos?

A impunidade da ilógica decisão só pode navegar por prováveis odores a corrupção na compra e por futuros "lucros" fáceis em multas, divididos por Câmara Municipal de Lisboa 55%, Autoridade Tributária, 35%, Segurança Rodoviária,10%. 

Qual será o critério, a lógica ou o racional que justifica esta participação de "lucros" e como serão aplicados?

Como é definida segurança rodoviária, se tudo o que nos últimos anos se tem feito é atormentar o espaço, desde sempre, destinado a automobilistas oferecendo-o em fatias largas e INÚTEIS a trotinetes e bicicletas, onde passam meia-dúzia de utilizadores por dia, infernizando a vida aos automobilistas e provocando acidentes com  veículos de duas rodas, a quem uma conveniente lei nunca referendada oferece prioridade não solicitada? 

Segurança para o negócio das duas rodas, agora chama-se segurança rodoviária?

Se com 20 radares a entrada média de dinheiro em multas foi, nos últimos 6 anos, de 3.163.900€ anuais, com 40 unidades e velocidades ainda mais baixas (algumas com máximo de 30Km/h), o negócio facilmente irá render o dobro e, o agora "investido", ficará pago em 6 meses...

Ou seja, quem tiver a pretensão de continuar a circular de automóvel na capital, torna-se potencial grande contribuinte das entidades "interessadas". O ataque aos automobilistas, a quem foram subtraídos em dezenas de Km de estradas, vários metros para pistas onde estudantes, turistas e estafetas - que não votam - se movimentam, no Verão, de trotinete e bicicleta, parece não conhecer limite ou vergonha. 

A falta de imaginação dos autarcas de Lisboa para resolução dos problemas ambientais e mobilidade, aliado ao interesse voraz do loby das bicicletas e afins, está a condenar o condutor lisboeta a uma ditadura de mobilidade!

Farão o que entenderem. Eu, votarei nas próximas eleições para a CMLisboa no candidato que me assegure acabar com esta descarada palhaçada!

Basta de vitimizar os automóveis cujos proprietários pagam toda a espécie de impostos para existirem como automobilistas, agora mais apertões de circulação, multas e limites RIDÍCULOS de velocidade? NÃO. Com o meu voto, NÃO!

Mais radares a partir de 23 de Maio de 2022 em Lisboa: 

Av. da Índia, Av. Brasília, Av Infante D. Henrique, Av. Gen Correia Barreto, Av Marechal Spínola, Av. Marechal Gomes da Costa, Av. Alm Gago Coutinho. Av. Eusébio da Silva Ferreira (2ª circular), Av da República, Campo Grande, Av. Cidade do Porto, Av. João XXI, Av. Afonso Costa, Túnel do Marquês de Pombal, Av. Craveiro Lopes e Av. Descobertas.

*https://www.radarsign.com/how-much-does-a-radar-speed-sign-cost/

https://www.made-in-china.com/products-search/hot-china-products/Traffic_Speed_Radar.html

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Portugueses pagam formação de técnicos a países ricos.

Este é apenas mais um indicador de indiferença, dos governos em que nós regularmente votamos, para com os impostos que pagamos.

De há muito, sabemos que a Força Aérea Portuguesa foi o caminho gratuito - e até remunerado - para preparar pilotos de combate que, uns anos depois de o estado ter gasto centenas de milhar de euros nas suas formações, desvinculavam-se graciosamente e, vão ingressar nos quadros de pilotagem da Tap.

Sabemos que, diariamente, abandonam o país técnicos - que seriam de grande utilidade em Portugal -  pagos pelos impostos dos portugueses, para auferirem de melhores vencimentos em países mais ricos. 

A questão é: Se esses técnicos pretendem emigrar, têm de compensar o elevado custo que os impostos dos portugueses pagaram pela sua formação, da qual não vão usufruir.

Não fará qualquer sentido cidadãos de países pobres, pagarem a formação de técnicos que irão exercer a profissão em países ricos não gastando estes, qualquer verba nessa formação. 

Se pretendem partir, paguem cá POR COMPLETO o diferencial dos custos entre impostos pagos pelos cidadãos e as propinas pagas pelos potenciais emigrantes. Se não possuem verba para tal, solicitem-na ao país de destino ou à banca.

Serem cúmplices a depauperar o limitado orçamento português é que não!

Aguardo, como pagante de violentos impostos em Portugal, uma legislação que moralize este óbvio escândalo.

                                         



        



domingo, 8 de maio de 2022

Os 30 anos de ouro.

  

É assim que são conhecidos na história da economia os 30 anos pós II Guerra Mundial.

Entre 1945 e 1975 as economias da Europa e dos EUA conhecerem desenvolvimentos únicos em toda a sua História. Mas não só! Foram também anos especialmente marcantes para o Japão que, conjuntamente com a Alemanha, assumiram lugares cimeiros passando de potências física e psicologicamente arrasadas, a terceira e segunda posição na economia global.

Este período dourado vincou, na mente de quem o viveu, a imagem de um mundo melhor que crescia a olhos vistos. A pujança do crescimento era tal, que parecia não ter fim. Sociedades saídas de duas guerras mundiais, uma pandemia, uma banca rôta e ideologias políticas nascentes, encontravam agora na segunda metade do século XX, uma prosperidade nunca antes vista na História da humanidade.

E foram também 30 anos de Paz, tão valiosa quanto rara. 

As gerações nascidas após 1975 - note-se, depois de 1974 - começam a sentir as primeiras dificuldades em continuar a sentir ritmo do desenvolvimento, semelhante até ao então conseguido. 

E, como sempre, em política surgem oportunistas, analistas cirúrgicos do que foi mal feito porém, convenientemente alheios ao muito conseguido, geralmente, profetizando mudanças "para melhor" sem explicarem como, quantificaram valores e sacrifícios ou apontarem para quando... 

Na circunstância, destacou-se um economista que - espantosamente - seria em 1976, laureado com o prémio Nobel. Milton Friedman assegurou que o mal do crescimento das economias se encontrava nas despesas sociais dos estados. 

Despesa dos mesmos estados que tinham transformado um passado limitado, com guerras, recessão e ignorância massiva, num presente repleto de expectativas e futuros risonhos, hoje ainda usufruídos.

Quando numa entrevista, questionam Friedman sobre quais as regiões com modelos de governação semelhantes aos que advogava como não despesistas, o economista não tem qualquer pejo em apontar Macau e Hong Kong, à época colónias europeias, com regulamentação estatal mínima, sem qualquer despesa social - educação, saúde, habitação, aposentação, defesa - vivendo como economias offshore e colhendo receitas significativas do jogo. 

(Para dar uma ideia da dimensão destas receitas em Macau, cerca de 32,43mM€. Em Hong Kong, cerca de 34mM€, 2019).

Apesar do ataque frontal ao que, historicamente, de melhor tinha sido conseguido pelas economias europeia e americana e sem apontar qualquer solução alternativa credível Friedman, desde então, é tido como guru económico para a extrema-direita e de todos os que vêem no desenvolvimento da humanidade, um incómodo às suas ambições feudalistas empresariais.


A John Maynard Keynes* e George Marshall**, respectivamente estratega e executante do Plano Marshall, o meu reconhecimento pelos 30 anos de ouro!

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https://www.google.pt/search?q=john+maynard+keynes&authuser=1&sxsrf=ALiCzsZJAjS4cA4LcAkAH2vdSPRJ0gL9qQ%3A1651785836033&source=hp&ei=a0B0Yqq2PIv0a7TenrgE&iflsig=AJiK0e8AAAAAYnROfPMLs0svk62fwP_ALOewhY8c4y36&gs_ssp=eJzj4tDP1TewTM_LM2D0Es7Kz8hTyE2szEssSlHITq3MSy0GAJo_CoI&oq=john+may&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYATIFCC4QgAQyBQguEIAEMgUIABCABDIFCAAQgAQyBQguEIAEMgUILhCABDIFCAAQgAQyBQgAEIAEMgUIABCABDIFCAAQgAQ6BwgjEOoCECc6CwguEIAEEMcBEKMCOggILhCABBDUAjoFCC4QywE6BwguEIAEEApQkQxY2SVg9UpoAXAAeACAAb8BiAHpBpIBAzUuM5gBAKABAbABCQ&sclient=gws-wiz


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https://www.google.com/search?gs_ssp=eJzj4tDP1TewNCnKMGD04k9PzS9KT1XITSwqzkjMyQEAbtQIzA&q=george+marshall&rlz=1C1JZAP_pt-PTPT730PT742&oq=george+mars&aqs=chrome.1.69i57j46i512j0i512l2j46i512j0i512l3j46i512.15586j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8






quinta-feira, 5 de maio de 2022

"Imobiliárias" - uma mina

 

Entre tantas entidades reguladoras criadas pelos governos, espanta-me com todos se vão esquecendo da gritante necessidade para o IMPIC, DL 232/2015 de 13 de Outubro*, regular a selvajaria imobiliária.

Ao IMPIC, a avaliar pela sua página hoje, na net, a grande notícia será: "Alerta: Prorrogação dos prazos para as comunicações obrigatórias no âmbito do Combate ao Branqueamento de Capitais e ao Financiamento do Terrorismo (BCFT)". 30/03/2022.**

Um grande destaque é a prorrogação de prazo para comunicações obrigatórias do provável branqueamento de capitais pela compra de imóveis. Salvo melhor interpretação, o branqueamento de capitais através da compra de imóveis pode continuar, que as imobiliárias continuam a poder, legalmente, não comunicar...

Quaisquer que sejam os argumentos do IMPIC a decisão é vergonhosamente cúmplice, para um instituto que os estatutos apelidam de público. Será que as decisões deste tipo são do interesse público ou interessam especialmente às lavandarias de dinheiro?

Notemos que estas agências imobiliárias são empresas, regra geral, de capitais mínimos sem possuírem qualquer imóvel próprio para negociação. Na prática, são apenas balcões de serviços tecnocráticos sem capital próprio, investimento ou risco.

Se em tempos foram completamente dispensáveis, lapam  agora o mercado e, mesmo quando alguém tente vender ou comprar uma casa, sem os 5 ou 6% + IVA que vão exigindo por colocarem publicidade na net e, raramente, mostrarem casas, tornam-se hoje inevitáveis pela sua sistemática insistência para interferirem nos processos.

Para o normal cidadão que tem uma casa para venda por 200.000€, se conseguir a taxa mais baixa, 5% mais IVA, terá de pagar 12.300€ por serviços que nem 1/4 desse valor justificam. Porém, quando qualquer um de nós, habituado a lidar diariamente com valores bem inferiores, passa instantaneamente a lidar com duzentos mil euros, doze mil e trezentos parece uma quantia acessível. 

E é dessa disparidade valorativa com a nossa vida quotidiana, que essa gente se aproveita. Repare que as facturas dessas empresas nunca têm rubricas discriminatórias. Deste modo, nunca sentimos o patético valor que pagamos, face ao normal custo do mercado atribuível aos serviços que nos prestaram.

Se alguém vender um apartamento por 300.000€, pagará instantaneamente 18.750€ praticamente o equivalente a dois salários mínimos anuais...

Como será possível que um governo, que deve proteger os cidadãos, permita valores especulativos sem qualquer justificação, limite ou decência mínima?


*https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?artigo_id=2450A0001&nid=2450&tabela=leis&pagina=1&ficha=1&so_miolo=&nversao=#artigo

**https://www.impic.pt/impic/pt-pt/



terça-feira, 3 de maio de 2022

Serviço Militar Obrigatório.

 O Serviço Militar Obrigatório (SMO) foi uma instituição retomada pela guerra colonial, um recurso normal de mobilização militar quando é previsível ou se desenrola um conflito armado.

No caso da guerra colonial, o SMO abrangia um período de 4 anos, sendo dois passados no continente e dois numa das colónias.

Durante o período de SMO os milicianos eram pagos por um valor irrisório - cerca de 1/4 do que à época seria um salário mínimo - e, sob pena de prisão, eram obrigados a incorporar os batalhões para a guerra de guerrilha.

Os militares do quadro gozavam então de um estatuto privilegiado: Salários muito superiores aquando da deslocação para África e benesses várias dependentes das patentes, carreiras rápidas, forte autoridade local e alheamento quase completo das zonas de risco físico. Seriam os milicianos - os militares não do quadro - quem enfrentava a guerrilha até à patente de capitão (inclusivé).

A carreira dos oficiais do quadro era de tal forma rápida e protegida que, ainda hoje, 48 anos após o 25/04/74, existem 220 oficiais generais,* para um activo de cerca de 23.400 militares. Ou seja, um general para cada 106 militares...

Já para os milicianos, além dos mortos em combate, os estropiados e deficientes enfrentam a vida civil com a quase completa indiferença da mesma sociedade pela qual foram combater. Uma vergonha e uma injustiça que a todos nos devia incomodar. Particularmente aos oficiais do quadro!

Porém, apesar das injustiças sofridas, os jovens que combatiam em África e regressavam ilesos, voltavam com  uma maturidade rapidamente adquirida, vontade de constituir o seu mundo, família, trabalho e determinados a vencer! 

O SMO funcionava como uma fronteira de choque entre a juventude e a idade adulta.

Com o fim do SMO os jovens passaram a eternizar a sua presença na casa dos pais, casando e preocupando-se com o trabalho muito mais tarde, além da idade da paternidade ser também adiada.

Estou longe de ser um adepto do SMO. Penso no entanto, salvo as vicissitudes da guerra, que um período (bem inferior a 4 anos) obrigatório de separação do jovem da família - militar ou não - será muito útil para auto-avaliação da capacidade do jovem, enquanto enfrenta desafios normais a um adulto.


https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/as-forcas-armadas-tem-220-generais-que-custam-139-milhoes-de-euros-por-ano